Todos os dias eu pego o mesmo caminho para ir para os mesmos lugares.
"Maldita mesmice"
Mas o acaso as vezes vem e me pega transformando o mesmo em algo novo quase que extraordinario.
Certo dia, ou talvez no dia errado, eu seguia o caminho que me levava a uma pequena padaria onde a minha mãe sempre me mandava comprar bolo de cenoura para o café da manhã. Sempre ando olhando para o chão, sempre sei para onde estou indo então pouco importa a direção ou os obstaculos. Mas naquele dia não. Esbarrei em uma mulher que vendia flores e a derrubei, o que me fez ter que olhar para algo alem do que havia dentro de mim. Segurei sua mão para levanta-la e ela me deu uma flor em troca e ainda teve a audacia de me dizer para entregar para aquela que eu amo ou que logo amarei. Pensei em dá-la para a minha mãe. E carreguei esse pensamento até levantar os olhos e ver um anjo. Perdoe-me por meu romantismo, mais do que desnecessario. Mas acredito que diria o mesmo ao vê-la.
Havia uma pequena garotinha de não mais do que 15 anos sentada na janela, ela olhava tudo com uma atenção que eu jamais virá antes, apreciava o que via e amava observar, sorria, acariciava a janela e não se cansava de admirar. Eu me aproximei da janela para que ela pudesse me ver, mas ela nem ao menos me notou, parecia muito destraida brincando em sua mente com as imagens que via.
Depois de algum tempo alí, parado, pude notar que ela tinha olhos muito azuis, mais do que qualquer um que eu já tivesse visto, ou pelo menos notado. Pouco tempo, ou muito tempo, não sei ao certo, depois ela saiu da janela e eu consegui continuar meu caminho, sem esquecer aquela linda imagem, no dia seguinte a procurei na janela, e não a encontrei, passei a faze-lo todos os dias, e partir pedaços da minha alma por não poder vê-la.
Durante a noite eu rezei, como já era de meu costume, e pedi que a visse novamente, por mais breve que fosse o tempo, tomei folego, passei lá mais uma vez durante aquela mesma noite. Dessa vez criei coragem e bati na porta, ela abriu me olhou e me perguntou: "Quem é?", não sabia o que responder e disse: "Eu apenas queria vê-la novamente". Ela sorriu e me perguntou se gostaria de entrar, achei demasiadamente estranho ela convidar um estranho para entrar, foi quando uma senhora, bem velha apareceu e perguntou a ela: "Quem é o rapazinho minha querida? O que ele faz aqui tão tarde?", doce como eu imaginava que seria sua voz ela respondeu: "Meu amigo, ele veio essa hora porque estava com saudade."
As visitas passaram a ser diarias e eu estava me apaixonando por alguém que via o mundo a sua propria maneira.
Sophia, nasceu cega, e sua mãe não a quis, foi criada por uma religiosa, que saiu do convento só para poder ser mãe em tempo integral. Além de cega, ela tinha outros probleminhas que não a deixariam viver muito, mas jamais consegui sentir pena dela, ou me sentir triste por perde-la em breve. Ela me ensinou algo que só me fez inveja-la por ser como é.
"As pessoas pensam que são eternas, que não tem prazo de validade como as coisas que compram para dar mais futilidade a sua vaidade. Eu nasci com prazo de validade pré-estipulado e sem poder ver as coisas como os outros veem. Aprendi com isso que o hoje é muito mais importante do que o amanhã, e que todos tem o dom de ver tudo como querem ver."
Eu sempre achei incrivel como ela conseguia enchergar melhor do que qualquer um que eu conheça.
#contodasuuh
por @suellen_veloso
segunda-feira, janeiro 16, 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)