Desde bem pequena fui acostumada a conviver com todos os tipos de fabulas fabulosas, do gato de botas a chapeuzinho vermelho. Tanto Rapunzel quanto Cinderela fizeram parte da minha infância e foram boas amigas varias vezes. Minha mãe costumava sentar ao meu lado, lá por volta das sete da noite, para que pudéssemos conversar e compartilhar livro que ela comprara desde sua gravidez.
Quando comecei a ir a escola, meus colegas zombavam de mim e de meus penteados e trajes inspirados nos contos de fadas, eu tinha um casaco de capuz vermelho, eu usava botas cumpridas como as de um gatinho serelepe, usava tranças como as de Rapunzel ou cachinhos como os da menina de cabelo douradinho. Sempre ia com um jeitinho único e pouco aceito por ser diferente.
Certa vez, resolvi fazer em meu aniversario, um festinha no bosque com todos os meus personagens de contos favoritos, mas ninguém real apareceu, a mamãe tentou disfarçar a decepção enquanto me dava doces beijos na testa e nas bochechas e me rodava e rodava, me mostrando que eu não precisava de mais ninguém se tivesse os livros.
Com o passar dos anos fui me tornando jovem e nem os vermelho de meu capuz, nem os cachinhos me caiam mais tão bem. A mamãe nunca havia me pressionado a usar o que eu usava, ela me incentivava, mas respeitava muito a minha forma de ver a vida e de querer viver. Transferi tudo aquilo que aprendi com os meus amados contos para um pequeno caderno que andava sempre comigo, nesse caderno tinha fotos, desenhos e muitas frases de livros. Sempre que não sabia como resolver algo recorria ao meu caderno e ele tinha uma palavra sábia para me passar.
Tentei passa-lo para minha filha quando fui mãe, mas ela estava sempre tão entretida na televisão e no computador que nunca conseguia sentar ao seu lado para ler-lhe uma historia, tentei o mesmo com a minha neta, mas ela chegou a ser agressiva, acho que ela estava brava com o namorado, com apenas 11 aninhos ela me chamou de velha e rasgou meu caderno. Minha filha brigou com ela, mas ela havia matado uma parte de mim já.
Hoje a minha netinha está tendo um bebe, ela tem apenas 15 aninhos e já vai ser mamãe. Então resolvi escrever a ela. Pedir que insistisse com a sua filha para que ela dê valor aos livros, que ela sentisse todas as noites e leia, mesmo que ela não queira ouvir, que ela abrace e de vários beijos de boa noite ao longo da vida de sua pequena. Existem lições que os livros ensinam que devemos guardar nos nossos corações, para aprender a não cair na lábia do lobo mau, que as vezes o que parece um sapo é um lindo e carinhoso príncipe, que não devemos jogar os nossos cabelos se não soubermos pra quem estamos jogando, que a vida é um bosque escuro, que exige cautela para ser percorrido, e muitas outras lições que ao que tudo indica, as crianças de hoje não vão aprender.
@suellen_veloso
Não é por nada não
ResponderExcluirmas você é muito bom no que você faz suuh *-*