Meu nome é Henrique Pedrosa e endereço essa carta ao portador.
Oi,
Não sei ao certo como escrever os relatos de minha vida, mas bem, tentarei fazer o melhor possível, pois é pouco provável que eu possa voltar a fazê-lo.
Fui criado só por minha mãe, meu pai nos abandonou quando eu ainda era muito moleque. Crescer sem um exemplo masculino não foi uma coisa muito simples, mas até que não foi ruim.
Aos doze anos, a coisa que eu mais gostava era de ser temido pelos garotos da minha escola. Já bem novo demonstrava claramente que cheguei ao mundo para ser um líder. Não eram muitos os que me seguiam, apenas três amigos, quase irmãos de proposito. Não éramos sindicalistas, mas éramos unidos por um ideal. Nada como salvar o mundo, o nosso proposito era apenas salvar uns aos outros.
Ser menino não é fácil, mas ser um menino ansioso pra ser homem é ainda pior.
Eu via carros, motos, mulheres. Observava marcas, estilos, dinheiro. Tudo aquilo é mais atraente aos olhos que uma inocente criança do que muitos desconfiam, imagine pra mim que nunca fui uma criança inocente.
Durante uma festa, eu ainda estava curtindo o melhor de ter doze anos, meus amigos beberam, fumaram, beijaram varias mulheres. Eu não poderia sair por baixo. Quando é que o líder sai por baixo em uma situação?
Acho que foi nesse dia em que perdi a virgindade com uma senhora bêbada. Ela devia ter pra mais de quarenta anos e nem deve lembrar-se muito bem de ter passado por quatro meninos muito curiosos. Nessa mesma noite eu briguei, bebi, fumei, transei tudo pela primeira vez. Acredita que ainda com doze anos eu nem cheguei a tossir. Dou minha palavra.
Cheguei em casa de madrugada como já tinha se tornado costume e minha mãe já dormia. Ela acordou com o barulho, me deu uma surra por ter acordado ela, me proibiu de andar com os meus amigos, mas não adiantou muito. Ter a minha galera era bem melhor do que ela poderia imaginar. Pelo menos eles me respeitavam e com eles, todos me respeitavam menos a policia. Mas quer saber nunca precisei do respeito deles mesmo, eles também não tem o meu.
Ao longo da vida eu fiz muitas escolhas erradas, entrar nas drogas foi a pior delas, pois a droga me trouxe um novo eu, um eu bem mais corajoso, que eu achava até bem mais homem, mas um eu sem freio.
Foi quando eu tirei uma vida, eu sinto ainda o cheiro do sangue daquela mulher, eu acho que não queria nada daquilo, mas eu estava devendo e ela não quis entregar a bolsa, eu estava armado, foi tudo muito assustador. Eu tinha apenas quatorze anos e era um assassino, os outros crimes foram bem mais fáceis. Roubar carros e casas se tornou um esporte, uma diversão para conseguir dinheiro e adrenalina. Parecia que quanto mais mal eu fazia mais respeito e mulher eu tinha. Eu demorei a ver que aquilo era algo ruim.
Com dezessete anos eu conheci alguém, sempre tem alguém não é mesmo?
Ela não era linda, mas tinha algo nela que me fazia bem, ela não transou comigo de primeira, mulheres acham que é isso que prende um homem, mas é a forma que ela faz isso que faz a gente pensar, sem contar que ela tinha alguma coisa a mais.
Começamos a namorar. Acho que quando você gosta de alguém tem que fazer algum pedido e achei que pedir em casamento era demais e que se pedisse pra ela transar comigo a perderia na mesma hora, sem outra escolha a pedi em namoro. Ela era uma delicia, não só no que fazíamos a dois, mas na forma que se preocupava com tudo que eu fazia, com meus amigos, minhas notas, minha casa, minha família.
Ela conseguiu me colocar um freio quando disse que “me amava como nunca tinha amado ninguém na vida dela”. Como ela sabia que aquelas palavras fariam toda a diferença?
Com dezoito anos comecei o supletivo, arrumei um emprego e decidi que iria me casar com ela. Mas quem procura o mal em algum momento o encontra.
Ela veio na minha casa numa manhã de domingo, com uma blusa cinza uma saia colada preta, lembro-me dessa imagem como se fosse a ultima da minha vida. Ela sorria mais do que de costume, brincou com o meu cabelo e me beijou como nunca, nos fomos pro quarto e não vou entrar muito em detalhes do que aconteceu, mas foi ótimo aquele tempo com ela.
Fui deixa-la em casa, estava tarde. Sem que eu esperasse eles chegaram, não lembro como eram, nem a voz, nem as roupas. Lembro-me do som estridente das balas acertando meu corpo, lembro que tudo aquilo era a coisa mais apavorante que já havia acontecido comigo, e olha que eu já tinha passado por muita coisa. O gosto da morte é mais amargo do que imaginamos quando somos nós que seguramos a arma. Tantos tiros e finalmente o fatal, na testa, eu cai e minha namorada me olhou, já chorando muito.
A ultima imagem que eu vi antes de tudo ficar preto era embaçada, minha namorada segurou meu rosto e mexeu os lábios como se gritasse, acho que nem cheguei a dizer o quanto eu a amava e o quanto ela tinha mudado a minha vida.
Depois da escuridão eu me vi sentado com um pedaço de papel na mão assistindo a minha mãe chegando até o meu corpo e completamente inconsolável, tão penoso quanto aquilo foi ver a minha irmã se ajoelhar no asfalto para segurar a minha cabeça. Tinham alguns amigos, muito curiosos e aquela igreja, cenário da queda de mais um.
BOM DIA, HOJE VISITEI AQUI SEU BLOG E GOSTEI MUITO BEM BACANA LER HISTÓRIAS INTERSSANTES.
ResponderExcluirESTÁ DE PARABÉNS @suellen_veloso.
Ficou Muito Bom Suuh e é de se arrepiar pqp :/
ResponderExcluirConcordo com o Andre...
ResponderExcluirÉ de se arrepiar...
É bom fazer com que não seja só mais um, ele merecia isso.
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