"Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."
( Marcel Proust )
É bem engraçado o que o tempo faz conosco.
Houve um tempo, não tão distante, em que as semanas passavam em uma velocidade "assistível", eu sentia o tempo passando entre uma aula e outra, notava quando as estações se dividiam por bimestre e sabia que em algum momento tudo pararia por dois meses e retornaria ao seu ciclo natural com o soar de uma campainha que apenas determinava que mais uma vez a rotina começaria.
Livros e cadernos faziam parte do meu dia assim como números, pessoas, lápis e canetas. Hoje vejo essas coisas, mas sem aquele velho cheiro de... Nem sei ao certo que cheiro tinham, nem lembro se bom ou ruim. Nesse mesmo tempo uma blusa me marcava como mais um no meio de alguns, era como se querendo ou não eu fosse parte daquele grupo de pessoas e de tudo naquele ambiente, pessoas corriam pra lá e pra cá, tinha suor em corpo magricelos de projetos de jogadores de futebol, tinha cheiro de hormônios, maquiagens e sabonete liquido nos banheiros, alem de frases enormes atras das portas com varias palavras tão infantis quando vulgares, como se quem as escreveu quisesse deixar a sua marca da pior maneira possível sem ter que se pregar a uma das paredes. Eramos partes daquelas paredes sem saber.
Lembro de rostos, que talvez hoje não sejam mais relevantes, mas que dão uma dorzinha naquele lugar onde todos pensam que guardam suas emoções mais secretas por saber que por mais importantes que tenham sido pra mim de alguma maneira não são mais.
Saudade é um dos cheiros que sinto ao pensar nessas coisas, sinto nascer um sorrisinho no canto do meu rosto quando alguns momentos caem sobre os meus olhos como uma grandes apresentação de slides em algum momento aleatório a outro, em um ônibus ou de baixo do chuveiro.
É engraçado sentir falta de algo que eu chamei com tanto desprezo de prisão, é engraçado comentar os meus professores no passado, sentir falta dos corredores e das coisas que aconteciam nos lugares mais escondidinhos o possível. Lembro que tudo aquilo parecia o fim do mundo, ou o começo dele. è impossível olhar pra trás e não sentir falta de nada, é impossível recordar e não sentir que tiraram algo precioso de dentro de você.
Às vezes eu só queria saber como estão todos os que ajudaram a construir a pessoa que eu sou hoje e outras vezes só queria que eles soubessem como estou.
Suellen Veloso
Olá, Suellen!
ResponderExcluirAdorei o teu texto, pq sempre gosto de falar sobre saudade. Mas, bem diferente de você, eu realmente não sinto falta do colégio. Ou da faculdade. Não sei, mas aquele período não foi tão bom assim, rs.
Mas sinto falta de coisas específicas, como uma que vc mencionou: cheiro de material escolar, rs. Tinha cheiro de novidade, esperança, algo assim. Cheiro de que um ano ia ser melhor do que o outro e tudo poderia acontecer. Eu pensava assim, por isso adorava comprar material escolar novo.
Não sinto tanta falta das pessoas que fizeram parte do meu cotidiano, porque sempre me esforcei para mantê-las comigo, mas elas escolheram se afastar. As que permaneceram, reconheço hoje como amigos e não sinto falta pq estão comigo. Com outras, sinto falta do que eram quando éramos crianças. Hoje são completos estranhos, os quais prefiro a ausência.
Talvez se tudo tivesse sido diferente, olharia para o período escolar da mesma forma saudosa que vc.
Ou melhor, acho que eu sinto saudade mesmo de tudo o que poderia ter sido e não foi. Como dizia Renato Russo: "saudade que eu sinto de tudo o que eu ainda não vi"! =]
Enfim, lindo texto!
Bjos!